e então espalhei sementes, gesto poético de quem nada entende de infinitos, de sol, ou de
milagres. eu olhava o gênero humano e descobria o preço excessivo pelo
encantamento dos vazios e dos sentimentos invisíveis.
porém, aqui de onde escrevo nascem os rios, as manhãs,
os livros. as trovoadas empurram o céu
para que venha a chuva e eu observo o vento ao longe a entreter os
ares. aqui estão ao alcance dos afagos, os
suspiros incansáveis, o coração habitado em poesia.
entre os labirintos da vida, em meio às palavras
impronunciáveis, sobrevivo à cor da terra. venho do amor tecido sob meus pés, de
raízes, de silêncios recurvos e brandos.
espero com devoção o movimento dos amarelos e as
pétalas jorrando em luz. eu que desacreditei de tudo, vejo-me diante da obstinada
coreografia dos dias, a invejar os girassóis.
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